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A ameaça já tinha sido lançada. Se o Conselho Constitucional validasse as eleições gerais de 9 de Outubro, Moçambique entraria para uma escalada de violência sem precedentes. E foi o que se viu naquela segunda-feira, 23 de Dezembro de 2024, logo após a validação do processo e a proclamação dos vencedores.

Os protestos violentos paralisaram todo o país, mas foi no distrito de Namacurra (na província da Zambézia) onde o rastro de destruição atingiu proporções inimagináveis. Em menos de 48 horas, todos os edifícios do governo distrital foram totalmente destruídos, forçando os dirigentes a abandonar a vila sede do distrito.

A lista inclui a sede do governo, a residência oficial do administrador, as direcções dos serviços distritais, a procuradoria, o tribunal, os registos e notariado, o Serviço Nacional de Investigação Criminal e o posto da localidade sede. Os únicos edifícios que escaparam foi o comando distrital da PRM e a direcção distrital da saúde. Mas sempre estiveram na mira dos líderes das manifestações violentas.

E porque a anarquia havia tomado conta do distrito, crescia o receio de que as escolas fossem os próximos alvos da onda de destruição. Alguma coisa tinha que ser feita para conter a violência. E assim surgiu a “Chamada de Consciência da Juventude”, uma iniciativa de jovens activistas do Kuyenda Collective, um projecto implementado pelo CESC nas províncias da Zambézia e Niassa.

Quitério Diogo, 32 anos, líder dos activistas do Kuyenda em Namacurra, explica que a destruição e vandalização de bens públicos e privados envolveu jovens locais, por isso a aposta foi sensibilizar e engajar esses mesmos jovens na valorização e protecção dos recursos comunitários, incluindo as escolas. “Para isso, estabelecemos uma parceria com a Associação Wakelana, o Serviço Distrital de Educação e alguns agentes económicos locais”.

Além da campanha de sensibilização contra a violência, a aliança sociedade civil, governo e sector privado usou o desporto como instrumento de mobilização e engajamento de jovens. Com apoio dos líderes dos bairros e direcções das escolas, foi possível identificar jovens para formar 14 clubes que disputaram o torneio de futebol que decorreu de 15 a 30 de Janeiro de 2025.

Mais do que uma disputa pela vitória, cada jogo representava uma oportunidade de convivência social, de compreensão mútua e de reflexão sobre o papel dos jovens na promoção da paz. “Os jogos eram muito concorridos. Na verdade, depois de tanta violência, aqueles eram os únicos momentos em que as pessoas se sentiam seguras e com motivos para celebrar. Nós aproveitávamos cada jogo para sensibilizar o público presente, reforçando a mensagem da paz, da tolerância, da reconciliação e da valorização da educação”.

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Em duas semanas – tempo que durou o torneio de futebol, a vila sede de Namacurra voltou a ser um lugar seguro. O então Administrador Moura Xavier, que há muito havia abandonado o distrito, regressou à vila para testemunhar o encerramento da iniciativa. Foi nesse evento que Moura Xavier dirigiu-se à população de Namacurra pela primeira vez depois da onda de violência que arrasou o distrito.

Além de apelar à tolerância e à convivência harmoniosa, o então Administrador de Namacurra destacou a importância da iniciativa na pacificação do distrito e agradeceu os activistas do Kuyenda Collective e seus parceiros locais. E porque o evento aconteceu na véspera do início do ano lectivo 2025, os promotores da iniciativa e as autoridades distritais aproveitaram o momento para mobilizar a população a participar nas actividades escolares e a garantir que todas as crianças vão à escola.

 

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Ao publicar esta história na Semana de Acção Global pela Educação, cujo lema é “Educação em Emergências”, o CESC pretende evidenciar que a educação pode ser um instrumento de união e resiliência. Quando colocada no centro das estratégias de resposta em situações de emergência, a educação não apenas preserva o futuro, como também regenera o tecido social, restaura a esperança e consolida a paz. A partir de um distrito do centro de Moçambique – onde tudo parecia não fazer mais sentido, os activistas do Kuyenda Collective e seus parceiros mostraram ao mundo que isso é possível.

A história de Namacurra ressalta o trabalho do CESC na construção de parcerias e no engajamento das comunidades e cidadãos para assegurar uma participação cívica efectiva e informada. O Kuyenda Collective é um projecto implementado pelo CESC e que visa fomentar o pensamento crítico sobre os sistemas de educação, desde o acesso a oportunidades até à avaliação dos resultados de aprendizagem. Além de Moçambique, o Kuyenda é implementado na Tanzânia, Malawi e Zimbabwe.

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